sexta-feira, 3 de março de 2017

transistor

reflutuam as flautas doces
neste corpo-de-dança

os espaços para sempre ruídos
sorvem deliciosamente imagens

tudo é fixidez e movimento
como eternizar o estado

deste copo-de-dança
num lance de palavras

que as leva o vento
como apreender o estalo

das coxas da buceta dos peitos
que sobem e descem armadores

do delírio da dança nua
como o remar dos homens

o tingir das telas a voz confusa
este o corpo que se dança

espaço ínfimo entre o metro quadrado
e o amplo dos tempos profundos

a marcar o tombo em que enfim
corpos e terra em um só aluvião

em carne e abandono fixam
o tempo dos espaços irremissíveis

*

você voava entre meu olhar
e o pedaço de taco
que se desprendia do chão

no nenhum movimento
o flutuar estanque
ante o taco e o olho

*

havia um caos no chão
para merguhar
e no entanto

sorriam epoquês de begônias
sons a levantavam
até o buraco aberto

como uma coda dada
em que reflutuassem
a flauta o corpo e a imagem

transistorizada da memória


(oswaldo martins)

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