Noto que agora minha
voz treme, fica rouca,
e a dela também, nas
mensagens que trocamos.
De noite, antes de
dormir, naquele nicho entre
o que não se realizou
no dia e o que será esquecido,
minha respiração
soluça.
Teimo em adiar resoluções
como se fossem
um produto de
qualidade inferior,
mas ainda assim removo
as teias da casa.
Ela me fala de uma tal
sabedoria
de antes da guerra, os
nomes dos filhos
seguindo as
estações, e as óperas.
Temos nomes curtos, ela e eu,
que cabiam numa
almofada bordada
pelas mãos das nossas
avós, em azul celestial.
Trocamos textos sem
culinária alguma,
sem preparo, renovando
os votos de sobressalto,
mas ainda assim, o
nicho.
A voz dela rouca e
escrita sobre a minha
me sublinha. A
voz dela rouca e escrita
sobre a minha.
(Lúcia Leão)
Nenhum comentário:
Postar um comentário