sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ci, a mãe do mato

entre a ladeira e os humores
a névoa baixa de seus olhos
como se nos meus

baixassem unhas vermelhas
e uma paisagem inteira
sobre o mato

como se um rubor brotasse
da selvagem mata
por dentro os meus


(oswaldo martins)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

de flores e de lambanças

para oswaldo martins  eugênio hirsch e manuel bandeira

não
não cruzes as pernas
não escondas
tua relva escura

não
não vou embora
ninguém me leva de onde estou
não tenho rei amigo
nem amigo sei

e as putas
andam todas raspadinhas
com grelos estranhos
não têm feridas bem se vê

putas com
certificados do imetro
da fiocruz

ah as belas putas
putas de dante
putas dantescas

cheias de relva
de selva
de relva escura


elesbão ribeiro

27/09/16

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

desimitação de marguerite

tem a beleza um rosto trágico
retinas olham desde o colo
para aquém delas a centelha
que se esconde e supõe contra

o próprio olhar – agora cego –
um olhar de si – aturdido –
a debruar-se nos pentelhos
teias tangíveis as guitarras

ecoam abismos flor de lis
no peito que olhara sob
tal mantel as margaridas

nas braçadas do teatral viés
guardam nome por não dizer-me
das vozes – mananciais fodidos


(oswaldo martins)

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Pan Yuliang - alma assobrada por uma pintura


Um nu de Bonnard e três de Guaguin





experiência de viagem

1
o corpo verte olhos
quem se derrama
paisagem única

cumpre abismos
istmos debruados

quando sozinho o oceano
trafega nuvens

2
o retalho
de um tríptico

a medição do olhar
que navega livre

pelo desvão da casa
à rua

3
bate na cara
o ar

o desafeto do cabelo
é um risco mínimo

assombro
de um minuto


(oswaldo martins)