O livro O
Sexo Vegetal, de Sérgio Medeiros, publicado pela editora Iluminuras, em
2009, constrói-se com elementos inusitados. Uma arte de amar que se propõe uma
simplicidade estonteante – livro paradoxal na busca da compreensão do humano,
posto que a linguagem ao afastá-lo da natureza envolve e desorienta o leitor na
negação cultural com que o homem inventa o mundo.
A construção empreendida pelo
poeta de uma relação amorosa para os vegetais que copulam com as palavras
permite que se rompam as forças comuns da linguagem, fabulando a possibilidade
de uma língua natural, de uma lógica que escapou da construção da história.
Como um botânico que colhesse não os espécimes, prestes a serem desvendados, Medeiros
busca, como um minucioso estudioso, os espécimes linguísticos que dão ao poema
sua justificativa e espanto.
Tal como alguém, frente ao
sublime kantiano, se vê abismado na torrente da finalidade sem fim, a língua apresentada
pelo poeta permite que se vislumbre de passagem, mas poderosamente, a possível
percepção da aluvião a que pertencem o homem, a natureza, de que se afastou – e
não poderia ser de outra maneira – e a linguagem a dizer só quando, se apresentado,
se diz.
A sinestesia destes versos “Havia
tantas estrelas no céu que ele pôde ouvir algo” brinca com a tradição da língua
brasileira, abandona-a e determina uma outra deriva para os ouvidos já batidos
dos ora, direis, posto que a cena que
se desenrola é a do mato parado às costas do observador, iludido com o
espetáculo dos universos gigantescos, paralisado com a encenação do que é: mato
parado do que observa sem ver.
A poesia de O Sexo Vegetal é poesia de erotismo delicado e
construído a ponta de faca, para desentocar do leitor costumeiro inusitadas relações
em que se vê mergulhado.
(oswaldo martins)
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