segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mariinha das bacias

Vivia-se sob o império das bacias. A água corria abundante sobre o corpo. Espremia-se a glande para saber das gonorreias. Mariinha, a grande mestra, pontificava sobre suas pupilas. Im antes de, água e sabão. Sobre filho, recomendava água fervente. Fio de puta é fio do mundo e minha casa não é paróquia de enjeitados. Dizia, pensando no futuro dela e de suas protegidas. Imaginava qual delas assumiria a casa, quando fosse se entregar aos turíbulos e às hóstias de todo dia.  Faltava pouco. Possuía já duas casas de bom tamanho que o arquiteto comprara no nome dela. Pensava em mais uma, mas o que tinha guardado não daria para tanto, pensava medindo a distância entre o desejo e a precisão.

O doutor aconselhava, o mercado ficava cada vez mais difícil; outras casas se abriam na cidade. Diziam de uma injeção milagrosa para os males do corpo. Será? Estaria passando seu tempo? Deolinda cuidava de sua paróquia com cuidado. Talvez, talvez. Quem sabe? Puta nova, mesmo castelã, ainda tinha algumas ilusões. Iria fazer negócio? Quando se encontravam eram tímidas e precavidas. Mariinha pensava. O que tinha? As melhores meninas da cidade, seu harém era escolhido a dedo, podia vendê-las? Calculava. A ordem de Maria, para seu caso, custava muito. O que apuraria na venda daria para uma vida de méritos? Duvidava.

Sentava na ampla sala, vazia e enorme àquela hora. As meninas preparavam as águas para a noite. Cantarolavam baixinho as músicas de suspiro, tristes sambas-canção. Mariinha matutava. Deolinda?


(oswaldo martins)

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