“... se riam dele e lhe chamavam canalha,
com essa intenção, mais amigável que pejorativa, com que assim o povo
classifica as crianças. ’Coisa de canalha!’
Em casa sempre ouvi, os adultos
referirem-se ás crianças com esta palavra. É canalha: é criança; são
canalhices: são coisas de crianças.
Esse trecho extraído do romance
SIBILA, de Augustina Bessa-luís, muito me comoveu, vasculhou minha memória. O/a
narrador/a só explica porque o personagem em questão já é adulto.
Ainda há pouco tive de explicar a
uma amiga o uso de “catraia”, ao invés de menina, no penúltimo poema do
namorada anarquista.
Com a perda da memória, também se
perdem as palavras. Com a perda das palavras, também se perde a memória. Tenho
usado a palavra rapariga quando escrevo, talvez para não perder a voz, a fala
curiosa e afável de meu pai ao dirigir-se a minha irmã: ó rapariga, o que temos
pra comer?
elesbão ribeiro
10/03/14
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