Cheguei em Piedade em 1956. Morei
no Engenho Novo entre 52, quando cheguei de Portugal, e 56. Tinha dez anos
quando cheguei em Piedade. A escola Goiás era a mais próxima ficava na rua
Goiás, no Encantado, quase esquina da rua Guilhermina, hoje uma rua conhecida
por causa do restaurante Rei do Bacalhau. A escola Goiás, assim como a escola
Medeiros de Albuquerque, em que estudei no Engenho Novo, tinha quintal por onde
podíamos correr uns atrás dos outros durante o recreio. Chegávamos em sala de
aula suados e agitados, mas o que quer uma criança, senão correr? As duas
escolas foram transformadas em prédios como são hoje todas as escolas da rede
municipal: gaiolas prisionais. As escolas desse tempo que estou recordando eram
aproveitamento de antigas residências ou os prédios foram projetados para serem
escolas?
Ao lado da escola Goiás corre o
rio Carioca. Tendo vivido às margens do rio Douro, ainda que por pouco tempo, o
rio Carioca me parecia uma vala por onde escorriam águas sujas. Portugal também
deve ter rios assim, só não tive tempo de conhecê-los.
Depois das aulas, nosso
entretenimento era deitarmos barquinhos de papel nas águas do rio ao lado da
escola na rua Goiás e correr para a rua Guilhermina para vê-los desaparecer na
galeria subterrânea, uma das tantas por onde corre o rio Carioca.
Em outros momentos, entrávamos no
rio pra pegar peixinhos, que alguém dizia não serem peixinhos, mas filhotes de
rã, cujo nome não lembro. Colocávamos os peixinhos dentro duma lata vazia.
Depois não lembro mais o que fazíamos. Lembro só das sanguessugas, minhocas que
se colavam em nossas pernas
Mais adiante em séries
posteriores, nos tornávamos ousados. Para desespero de nossas casas, pois
atrasávamos a volta da escola, íamos aos trens. Pegávamos o trem na estação do
Encantado, atualmente desativada, onde até hoje está a escola. Não me lembro se pagávamos a catraca ou se
galgávamos a encosta da linha férrea para chegar à plataforma. Entrávamos no
trem e saltávamos em Piedade, estação adjacente. Em Piedade, voltávamos ao trem
e saltávamos no Engenho de Dentro, estação também vizinha à estação do
Encantado. No Engenho de Dentro, entrávamos outra vez no trem e saltávamos
todos no Encantado. Um ou outo poderia ficar na estação de seu bairro. Mas
voltávamos ao Encantado, bairro em que ficava a escola. E íamos andando cada um
para sua casa. Ainda éramos pequenos e o mundo era grande.
elesbão ribeiro
22/09/13
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