quinta-feira, 26 de junho de 2008

Luiza Neto Jorge editada pela primeira vez no Brasil

Diário de Notícias, 22 de junho de 2008
Fernandes da Silveira e Maurício Matos são organizadores
Colada à boca a desordem e o rigor. Assim é a escrita de Luiza Neto Jorge, uma das maiores da poesia portuguesa que tem, nos anos 60/70, o auge da sua obra, documentada em A Lume, publicado a título póstumo, em 1989, e em Poesia 1960-1989, em 1993 (Assírio & Alvim).
A poeta está representada em antologias no Brasil, mas livro seu só surge agora em volume organizado por Jorge Fernandes da Silveira - professor de Literatura Portuguesa há quase 40 anos na UFRJ (Univ. Federal do Rio de Janeiro), com tese de doutoramento sobre a Poesia 61, e Maurício Matos, doutorado pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) em Literatura Portuguesa com tese sobre a lírica de Camões.
19 Recantos e Outros Poemas acaba de sair pela 7 Letras (Rio de Janeiro) em bela edição com apresentação de Jorge Fernandes Silveira, ensaísta de fulgurâncias e argúcia, especialista, entre outros, em Camões, Fiama e Llansol. A biobibliografia é escrita por Gastão Cruz, transcrita do n.º 18 da Relâmpago, sobre Luiza (2006).
A antologia segue a ordem da publicação dos poemas pela primeira vez em livro, os Dezanove Recantos estão na íntegra. A obra - revolucionária no que se refere aos "instrumentos de estilo e composição" -, a de "um corpo em estado de alarme, alarmado e alarmante" -, é dissecada pelo ensaísta que acaba de lançar O Tejo é Um Rio Controverso, António José Saraiva contra Luís Vaz de Camões (7 Letras), em que prossegue a aventura lusíada.
E é reler esta escrita, na revolta das palavras e tendo em conta a linha da reconstrução do discurso que se seguiu a Poesia 61 (Fiama, Luiza, Teresa, Gastão, Casimiro): "Estes versos rigorosamente irregulares, cortados por elipses frasais e semânticas, por uma exultante contundência."
Antiquíssima e nova, violenta e desagregada na sua harmonia composicional, a poesia de Luiza, no acto ou desacato da transgressão semântica, sintáctica, metafórica, metonímica, é libertária. Ao falar da queda, da vertigem, do corpo, do medo, do amor em bruto, da morte dir-se-ia táctil e mínima. Pode ser agora (re)lida no Brasil.
(Ana Marques Gastão)

Um comentário:

  1. ótima notícia, mano blogueiro. Ela merecia mesmo ser impressa no Brasil.
    Paz e bom humor, sempre
    Walmir
    http://walmir.carvalho.zip.net

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