quinta-feira, 31 de julho de 2008

UMA HISTÓRIA DO SAMBA



Monarco. O compositor da Portela em 2001 gravou esse álbum que é imprescindível para todo apreciador do bom samba. Produzido por Katsunori Tanaka e co-produzido por Henrique Cazes, o disco de Monarco, que se intitula Uma história do samba, é preciso em sua concepção e na economia com que o compositor passa a limpo a história do samba. A opção por uma cozinha leve, por instrumentos de sopro bem equacionados e a valorização da voz – essa voz monárquica – dividindo as frases com precisão metódica traz ao ouvinte acostumado ao som do samba e de suas raízes um prazer inesgotável e para os ouvintes de primeira viagem.

Note-se na terceira faixa em que interpreta Sinhô a beleza da passagem – didática – para o samba de Bide. Do maxixe ao samba como o compositor sublinha. Divide, pois. o disco em duas partes iniciais. Os ritmos do passado marcam as origens, depois os sambas evoluem ao longo das outras dez faixas, com as nuanças próprias do ritmo. Uma beleza!


(oswaldo martins)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Poema do dia

As palavras são coisas sozinhas. Arrancados do
mundo. Seria possível um mundo sem palavras?
A sua boca pede um murmúrio de vento. Ele não
tem som. Ele provoca o barulho. Ele mexe com
você. As palavras nascem do movimento de suas
cordas vocais. Elas vibram e você mexe. As cordas
se desgastam. As palavras roem as cordas.
(Masé Lemos)

segunda-feira, 28 de julho de 2008


a morte beija
os dentes

por eles sangra
a puberdade

a ausência de peitos
a nudez

da moça

que se me rasgam
os olhos

de vê-la

(oswaldo martins)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Cesta Frásica 1

1. ...escondo-me atrás da porta, para que a Realidade, quando entra não me veja.
Fernando Pessoa

2.... muita vezes o defeito é uma circunstância de beleza.
Mario de Andrade

3. Não fui alguém. Minha alma estava estreita...
Fernando Pessoa

4. Não é só a morte que nivela ; a loucura , o crime e a moléstia passam também a sua rasoura pelas distinções que inventamos.
Lima Barreto

5. Quem não pode fazer nada esculhamba. Esculhamba e se estrepa.
Rogério Sganzerla

6. Não vai sobrar nada pra quem tem sapatos.
Rogério Sganzerla

7. O fim estava próximo para quem tinha todos os dentes...
Rubem Fonseca

8.Não havia pecado, mas já havia justiça...
Cláudio Leitão

9. A história que você conta não é a mesma que a pessoa ouve.
Bergman citado por Carrière.

10. O concerto que vocês acabaram de ouvir é de Wolfgang Amadeus Mozart.
E o silêncio que veio depois também é de Mozart.
Sacha Guitry, citado por Carrière

11. Morre jovem o que os Deuses amam, é um preceito de sabedoria antiga.
Fernando Pessoa

12. Uma coisa é acariciar o teu cabelo, e outra é encontrá-lo na sopa.
Julio Cortázar

13. Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me
Cervantes

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Olinda e Recife

Inverno é o tempo das águas. Julho. Fez frio, 17º na madrugada das Graças sobre o Capibaribe. Fez sol também. As ondas de Olinda rebelam-se às pedras a travar-lhes a reconquista de milhas ocupadas de seu mar pela cidade.
Nasci no mês de julho. Chegar ao Recife sempre aumenta o gosto por frutas tropicais, sorvetes e sucos. Bom andar calado no meio da gente pelas ruas da Imperatriz, do Hospício, da Aurora, como um fingidor que deveras seja.
Fora tapiocas e demais saberes sensórios, o passado sobrepõe-se a espaços do Rio de Janeiro e do Recife num lugar sobre-real. Melodias de Edu Lobo provêm desse lugar em quinta diminuta.
Vias sujas, Guararapes, Dantas Barreto ou Conde da Boa Vista, e o Recife antigo despojado dos habitantes ativam frevos do velho Raul Moraes. Evocação do bar Savoy em versos de Carlos Pena Filho - São trinta copos de chope (...) Trezentos sonhos frustrados.
Não há capital grande no país, sem tiroteio contra inocentes. Olinda-Recife-Joboatão-Camaragibe-Carpina confirma(m) a prática. Elegias de Mauro Mota sobem do cemitério. O acidente de Chico Science fala dos estados de aceleração d'alma.
Mas de outra ordem mesmo é o trato pessoal direto. Bruto, diriam finórios. Retruca-se na lata. Chovendo ou estiado, quente ou fresco, na turba ou só, antes que eu entendesse, veio daí o que sou.

CLÁUDIO CORREIA LEITÃO

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dois poemas de Cesar Cardoso

coisa diacho tralha

1.
sobrevivente da calamidade
amor não tem cara nem metade

amor coisa diacho tralha
não divide nem migalha

amor silêncio da loucura
todo dia contigo amanhece

amor inferno que você carrega
e desconhece

2.

joana rasga as fotos
do amor já torto e roto

waldemar toca a beber
pra matar a embriaguez

martins arranha os discos
e por fim o prego no ouvido

inês dá três tiros na aorta
três seu número da sorte

soraia faz juras e pula
será do amor essa altura?

as pazes se desfazem
a cara cospe a metade

resta sem ganir o cão
que ainda fareja as mãos

onde já não há pessoa
só o cachorro perdoa

(Cesar Cardoso)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

SOBRE ANGÚSTIA DE GRACILIANO RAMOS

“Levantei-me a cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios”.

“Há nas minhas recordações estranhos hiatos. Fixaram-se coisas insignificantes. Depois um esquecimento quase completo. As minhas ações surgem baralhadas e esmorecidas, como se fossem de outra pessoa”.

As duas passagens acima, retiradas do livro Angústia, de Graciliano Ramos, servirão de mote para a questão que se apresenta. A primeira está no início do romance, é a porta de entrada a partir de onde o leitor situará todo o processo da narrativa. O que será descrito são acontecimentos que antecedem os trinta dias demarcados como o prazo do restabelecimento precário do narrador. A lembrança que revelará tais acontecimentos, por seu turno, será avivada a partir da dessemelhança entre o narrador redesperto e a personagem da memória imersa na inconsciência dos fatos. Assim, Graciliano entrega ao leitor o problema. Um mesmo – o narrador é e não se vê como é – e um outro – a personagem que é, ao mesmo tempo, o narrador e seu outro. O processo de escavação da memória surge, portanto, definida como estranhamento, diferença. Como hiato, brecha, resto.
O narrador memorialista, que se lê a partir do sucedido – o assassinato que busca compreender – trai uma dissociação entre sua vida e ele mesmo e corrompe com esta formulação o princípio básico da memória: a lembrança que distingue e faz do texto memorialista um apanágio da excentricidade. Dupla inserção, portanto. De um lado a perquirição da construção da memória; por outro, a formulação crítica do próprio discurso memorialista. Em outras palavras: de um lado a pesquisa sobre os fundamentos da constituição psicológica da memória; de outro, sua inserção nas formulações do próprio gênero memorialista. Em diversas passagens de Angústia, o leitor se verá a frente do discurso que se liga à formulação da escrita.
Luis da Silva vive de pequenos expedientes: escreve sonetos e artigos encomendados, para a satisfação dos pares sociais – cobra por isso e como resto destes escritos se vê escrevendo romance, artigo, conto de monta. Aqui e ali se justifica da necessidade, afirmando ser possível essa escrita mesquinha por tudo ser ilusão. No entanto, a própria tessitura da narrativa irá desmentir o ponto de vista do personagem, pois a formulação da memória se dá contra o auto-elogio ou a excentricidade do personagem que julga ser necessário pôr-se em papel. Ou seja, por que ficcional a narrativa da memória em Graciliano Ramos não se dá como memória, apenas a arremeda. Seu ponto de chegada é outro. Para que se possa aclarar tal ponto, deve-se vir à outra inserção, a constituição psicológica da memória.
Leia-se a passagem com que se iniciou a análise: “Há nas minhas recordações estranhos hiatos. Fixaram-se coisas insignificantes. Depois um esquecimento quase completo. As minhas ações surgem baralhadas e esmorecidas, como se fossem de outra pessoa”. A formulação das recordações se faz a partir de estranhos hiatos, de coisas insignificantes. Os hiatos apontariam para brechas abertas no discurso da consciência. Lembra-se não o essencial, por não querer afirmar sua força de fato, de acontecimento.
É claro que toda narrativa é construída para que se possa compreender a totalidade da ação, para que se possam compreender os motivos que levam a personagem ao assassinato. Mas, se o leitor cuidadoso perceber sua articulação descobrirá que o assassinato, embora acontecimento central da narrativa, não é o fato decisivo que a constitui. A constituição do significado narrativo está nas pequenas brechas abertas pelo discurso do narrador, isto é, mais importante que a ação é a concentração dos ouvidos do narrador colados, por exemplo, à parede do banheiro contíguo a casa, no qual Marina se banha, escova os dentes, mija. Banhar-se, escovar os dentes, mijar são índice do apagamento do indivíduo, Luis da Silva, que se apaga frente a uma vicariedade. Ou como as pernas frias de Berta, no escuro cinema, ou as condenações e admoestações contrárias a toda forma de sexualidade.
A articulação feita pelo discurso do narrador da sexualidade com o poder do antepassado, esfumado pela incapacidade do pai e da personagem, permite que se afirme ser Angústia menos uma lição sobre a individualidade e mais um discurso sobre as relações entre sexualidade e poder. As brechas do discurso, inscritas no corpo da individualidade de Luis da Silva, se articulam no discurso do narrador com a reflexão sobre a constituição do poder enquanto frustração que afeta a sexualidade.


Ao articular as duas inserções poder-se-ia aventar a hipótese que norteia essas páginas: à esterilidade da personagem corresponderia igual esterilidade na formulação da linguagem literária atacada por Graciliano Ramos.
Em virtude da escrita vista como afirmação do indivíduo, como afirmação da diferença social, a narrativa que se narra, ao articular a esterilidade da personagem, narra a própria esterilidade de uma escrita permeada de excentricidades e lugares comuns, entranhadas na tradição literária brasileira.


(Oswaldo Martins)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Pedro Páramo

Vine a Comala porque me dijeron que acá vivía mi padre, un tal Pedro Páramo. Mi madre me lo dijo. Y yo le prometí que vendría a verlo en cuanto ella muriera. Le apreté sus manos en señal e que lo haría, pues ella estaba por morirsey yo en un plan de prometerlo todo. "No dejes de ir a visitarlo - me recomendó -. Se llama de este modo y de este otro. Estoy segura de que le dará gusto conocerte." Entonces no pude hacer otra cosa sino decirle que así lo haría, y de tanto decírselo se lo seguí diciendo aun después de que a mis manos les costó trabajo zafarse de suas manos muertas.

(Juan Rulfo - Pedro Páramo)

Metaquímica sonhadora (citações fora do contexto)

O brasileiro, tipo abstrato que se procura, (...) só pode surgir de um entrelaçamento consideravelmente complexo. (...) Avaliando-se, porém, as condições históricas que têm atuado, diferentes nos diferentes tractos do território; (...), vê-se bem que a realidade daquela formação é altamente duvidosa, senão absurda.
Os Sertões, Euclides da Cunha 1902.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

OFICINA TEXTOTERRITORIO


No ano de centenário da morte de Machado de Assis,o TextoTerritório convida contistas de plantão a recriar a obra do Bruxo.Envie seu conto até 31/08/2008 para contato@textoterritorio.pro.brOs textos selecionados serão publicados numa edição eletrônica do TextoTerritório.Confira as normas de direitos autorais do Creative Commons, adotadas pelo TextoTerritório

http://www.textoterritorio.blogspot.com/

sábado, 5 de julho de 2008

Da amizade 1

para ronald iskin


A celebração dos cem anos de morte de Machado de Assis tem dado lugar a uma série estapafúrdia de episódios. Publicações estranhas e desnecessárias. Falatórios. Pequenos fuxicos. Arrematadas besteiras. Citações sobre o óbvio. Concursos. Do que vi publicado na imprensa, apenas me interessou o texto em que Silviano Santiago analisa o Instinto de Nacionalidade. Espanta-me, assusta-me e me entristece a ausência de referências a uma das mais lúcidas análises da obra machadiana, feita por Luiz Costa Lima no texto “Sob a face de um Bruxo”, publicado em 1981. Sorrio, entretanto, com a capacidade destes dois mestres.

Em conversa com meu amigo Ronald, relembrávamos o belo texto. A releitura deste texto fundamental fez-me lembrar dos belos cursos oferecidos pela Letras da PUC-RJ, entre 1979 e 1984. O privilégio de ter sido aluno de Luiz, de Silviano, do Jorge Fernandes foi meu, de Dora, de Ronald e de tantos outros que aprendemos a partir da lucidez, da ironia com que conduziam suas aulas e críticas.

O curso de criação literária, ministrado por Silviano, nos aparelhou para que crescêssemos e amadurecêssemos a vontade de escrita. Foi neste curso que tivemos a primeira medida da escrita profissional e cumprimos os ritos da amizade que nos coloca em um lugar especial de referências pessoais. Ponhamos. Ou o curso em que Luiz Costa Lima nos fez ler, perceber e medir a seriedade com que João Cabral criava a poesia, dando-nos a medida do possível, a certeza de que valia a pena fazer o que fazíamos. Ou o curso sobre Machado, no qual esquadrinhamos – a partir do Sob a face de um bruxo – as possibilidades de outra constituição de sentido para a literatura.

Tudo isso misturado ao belo grupo de estudo sobre teoria de literatura de que fazíamos parte Dora, Ronald, Rachel, Márcia, Liana e eu. Parafraseando Mário, a partir de Pedro Nava. Saudade.

(oswaldo martins)

Poema do dia

CANÇÃO NOTURNA

(TRAKL)

O hálito do imóvel. Um vulto rígido
De animal no azul, sua santidade.
Poderoso é o silêncio da pedra.

A máscara da ave noturna. Um triplo
Som morre num só. Elai! O teu vulto
Dobra-se mudo sobre águas azuis.

Espelhos silenciosos da verdade!
Na fronte de ébano do solitário
Surge o reflexo de anjos decaídos.

Aspectos da literatura de 30

Ao ser convidado para participar desta mesa, cujo tema é o itinerário de um retirante: a literatura nordestina dos anos 30, decidi por traçar um pequeno desvio. Sabendo que a literatura de trinta, especialmente a nordestina, se preocupa em criar condições para que se pudesse melhor entender a história do país e, desta história, a constituição de sua economia, parece-me lógico nela perceber uma imediaticidade realista. Daí a necessidade de questionar brevemente o significado e os conteúdos de uma obra realista.

Para tal, cito duas passagens retiradas de um texto de Luiz Costa Lima, o segundo capítulo do livro A metamorfose do silêncio. Vamos, então, à primeira:

“Quando as pessoas não se querem entender, se perguntam sobre o significado das palavras. Concebida usualmente como sistema de comunicação, a linguagem é antes veículo de enganos. Ao conjunto dos mesmos chamamos senso comum. Nem por isso, é verdade, ela deixa de comunicar: também o engano é comunicativo, mais ainda se conta com o apoio da opinião generalizada”. (Costa Lima, Luiz. Realismo e Literatura in Metamorfose do Silêncio. Livraria Eldorado. RJ. 1974)

A segunda passagem diz o seguinte:

“... o realismo é um destes emplastros por onde fluem tranqüilos analistas, críticos e historiadores da literatura. Socorremo-nos, no máximo, de adjetivos e compomos expressões do tipo alto/baixo realismo, realismo fantástico, crítico, alegórico ou cósmico. As expressões cunhadas então parecem driblar o vazio, como se o adjetivo pudesse cobrir o equívoco do nome.” (Idem)

Das duas passagens selecionadas, alguns aspectos interessam-me. A consideração de que a linguagem do senso comum não permite uma reflexão sobre a própria linguagem, pois tal reflexão a tornaria incapaz de cumprir sua eficácia comunicativa, corresponde o seu contrário: a linguagem que não se aplica ao cotidiano, por não se referir a uma troca efetiva com algum interlocutor, abre um determinado espaço no qual sua função específica deve cumprir-se. O que cumpre tal linguagem, deslocada de seu espaço originário, é necessariamente a reflexão. Provocar, pois, a reflexão seria sua tarefa. Quanto mais a obra se afasta do desejo comunicativo mais a linguagem forja brechas para a necessidade de reconfigurar o mundo, para a necessidade de repensar o mundo e o que sobre ele, via comunicação, deu lugar às certezas não matizáveis do senso comum.

A esta linguagem pertencem não só a linguagem ficcional como a linguagem da sociologia, da historiografia, da ciência. Todas elas não se apresentam a partir da necessidade comunicativa. A historiografia, a sociologia, enfim, o saber produzido pelo mundo, depende do domínio de um repertório significativo sobre o qual se possa debruçar e apreender como sentido. Todas, em menor ou maior grau, são ficções.

Como ficções, entretanto, têm caráter diverso e se separam umas das outras por diversas necessidades, e muito embora todas tenham a preocupação de criar determinados modelos interpretativos sobre o mundo, assim o fazem para esconder a fraude do ficcional, isto é, para apagar o estatuto da linguagem deslocada do senso comum. Delas a linguagem literária se desloca, pois o seu próprio estatuto é assumir-se enquanto fraude. O pacto que leitor e obra se fazem é necessariamente presidido por esta fraude.

O conceito realismo, ao procurar esconder esta fraude, dá à obra ficcional uma característica que apaga o percurso de sua própria constituição, por isso o cair no vazio, o transformar a literatura em documento, isto é, o transformar a literatura no que ela não é.

A partir desta reflexão, podemos verificar que tanto algumas obras da literatura de trinta quanto os que sobre elas se debruçaram incorrem num engano. O de tomar a obra como espelho, como apagamento da intermediação ficcional, ao propor que – por exemplo – no ciclo da cana de açúcar, escrito por Zé Lins do Rego, veja-se a caracterização do país, de sua cordialidade, de sua identidade como nação. Este discurso não nasce de dentro da reflexão literária, mas da obra de Gilberto Freyre, isto é, é um reflexo, uma reduplicação das considerações do sociólogo. Sua recepção, por outro lado, acentua esta reduplicação como qualidade e assim a propõe como sistema.

Linha auxiliar dos vários discursos que sustentam a identidade da nação – sob a égide da literatura de trinta foi o discurso sociológico e econômico que comandaram a festa – a literatura brasileira, ao longo do tempo, vai estar marcada por esta necessidade de validação, pois, pouco afeitos à indagação da linguagem, nos contentamos em ter a literatura como auxiliar que dissemina e valida os outros saberes.


(oswaldo martins)

RECOMENDANDO LEITURA 11

1 – Eu, um outro – Kertész, Imre. Cia das Letras.
2 – A pista de gelo – Bolaños, Roberto. Cia das Letras.
3 – A casa demolida – Porto, Sérgio. Ediouro.
4 – Modesta proposta e outros textos satíricos – Swift, Jonathan. Editora UNESP
5 – A intimidade – Kureisshi, Hanif. Cia das Letras.

terça-feira, 1 de julho de 2008

FELICES LOS NORMALES

A Antonia Eiriz
Felices los normales, esos seres extraños.
Los que no tuvieron una madre loca, un padre borracho, un hijo delincuente,
Una casa en ninguna parte, una enfermedad desconocida,
Los que no han sido calcinados por un amor devorante,
Los que vivieron los diecisiete rostros de la sonrisa y un poco más,
Los llenos de zapatos, los arcángeles con sombreros,
Los satisfechos, los gordos, los lindos,
Los rintintín y sus secuaces, los que cómo no, por aquí,
Los que ganan, los que son queridos hasta la empuñadura,
Los flautistas acompañados por ratones,
Los vendedores y sus compradores,
Los caballeros ligeramente sobrehumanos,
Los hombres vestidos de truenos y las mujeres de relámpagos,
Los delicados, los sensatos, los finos,
Los amables, los dulces, los comestibles y los bebestibles.
Felices las aves, el estiércol, las piedras.
Pero que den paso a los que hacen los mundos y los sueños,
Las ilusiones, las sinfonías, las palabras que nos desbaratan
Y nos construyen, los más locos que sus madres, los más borrachos
Que sus padres y más delincuentes que sus hijos
Y más devorados por amores calcinantes.
Que les dejen su sitio en el infierno, y basta.
(Roberto Fernández Retamar)